Ícones

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Pílula nova no mercado!

Pra começar peço desculpas pela demora em escrever aqui no "Toque". Nem conto como foi a minha semana... um dos motivos de tanta correria é que, além de toda a agenda mega lotada ainda tive que encontrar espaço para apresentar palestras para médicos, utilizando um horário que não estava livre! Não pensem que dou conta sempre impecavelmente. Às vezes, eu quase surto. Então eu "respiro no saquinho" e consigo sobreviver. As pessoas que convivem comigo sentem quando o bicho está pegando: cara de cansada, cabelo desarrumado (porque apesar de bonzinho meu cabelo também fica esquisito quando não ligo pra ele), não rola nem um rimelzinho ou blush, batom, então, rss. Não troco de bolsa, nem de brinco. Pronto, diagnóstico fechado! mas como eu estava dizendo, falando das palestras, são sobre um novo anticoncepcional lançado esse ano e resolvi escrever sobre o tema.

A pílula anticoncepcional completou 50 anos em 2010. Durante todos estes anos o uso de anticoncepcionais vem crescendo no mundo todo e passando por mudanças, sempre com a intensão de garantir eficácia contraceptiva, mas com mínimo efeito colateral e, ainda, com benefícios além da contracepção. Quando foi lançada tinha o objetivo de ser usada no tratamento do sangramento uterino anormal, para controlar o ciclo menstrual, porém sua principal contra-indicação era para mulheres que desejavam ter filhos. Então, milhares de mulheres que queriam evitar uma gravidez indesejada passaram a usar anticoncepcionais. Esse efeito não vinha escrito na bula por questões religiosas e políticas.  Nos primeiros anos, milhares de mulheres morreram de trombose. As pesquisas aumentaram, a medicina foi evoluindo até desenvolverem novos compostos hormonais com menor risco, sem perder a eficácia. E até hoje os avanços não param.

Em todos estes anos houve diminuição da dose do estrogênio: (há pílulas com 35 mcg, 20 mcg e 15 mcg de etinil estradiol. As pílulas com 35 ou 20 mcg são as consideradas de baixa dose. As pílulas com 15 mcg são as de ultra baixa dose; Novas progesteronas em sua composição: (levonorgestrel, desogestrel, gestodeno, clormadinona, ciproterona, drospirenona. cada uma com características individuais para se adequar a cada perfil de mulher); Diferentes vias de administração: (injetável, anel vaginal, adesivo, implante e sistema intra-uterino -estes utilizam outro estrogênio e progestogênio, diferentes das pílulas); Diversas maneiras de tomar: (21, 22, 24 e 28 comprimidos e intervalos diferentes entre as cartelas, além de cartelas com a mesma dose de hormônios em todos os comprimidos ou com doses diferentes); composições hormonais que oferecem benefício além da contracepção (como pílulas para tratar TPM, síndromes androgênicas, etc).

Agora lançaram uma pílula que utiliza o estrogênio natural em sua composição, idêntico ao estrogênio produzido nos ovários, o Valerato de Estradiol, diferente do etinil estradiol, um estrogênio sintético até então era o único utilizado em todas as pílulas nos últimos anos.

O uso de um estrogênio natural tem a intenção de trazer mais benefícios às usuárias de anticoncepcional. Alguns estudos mostram que o estrogênio natural tem um impacto menor no fígado, assim como em todo o nosso organismo. Esse novo anticoncepcional está no mercado brasileiro desde janeiro deste ano, mas já é utilizado na Europa e EUA há mais tempo. Desde seu lançamento há muitos trabalhos sendo realizados para avaliar o comportamento desta pílula na prática, e o que se espera do futuro é que algumas contra-indicações  possam mudar, ampliando as possibilidades da indicação do anticoncepcional. Esse lançamento é um novo conceito em contracepção. Eu sempre esperei chegar ao mercado uma pilula com estrogênio natural. Acho que a tendência, a partir de agora, é que esse hormônio faça parte das futuras composições com outros progestágenos que ainda não são utilizados. Pois o Valerato de estradiol foi testado com todas os progestogênios conhecidos, mas somente um chamado Dienogest conseguiu completar a composição desta pílula. Fiquei feliz com seu lançamento e com os resultados que estou vendo nas pacientes que já estão em uso. Muito bom!

Coisinhas que muita gente não sabe: lá fora existe um anticoncepcional que se chama Beyaz (é o Yaz, conhecido aqui, com um similar de ácido fólico e cálcio). O ácido fólico deve ser usado para quem está querendo engravidar para evitar problemas neurológicos no embrião. O ideal é iniciar seu uso assim que a mulher interrompe o método contraceptivo, porém observamos que acontece gestação quando o remédio é usado de forma errada, quando se esquece de tomar a pílula. Foi pensando nessas mulheres que acrescentaram o ácido fólico ao contraceptivo. Em caso de gestação inesperada, pelo menos a mulher já estava em uso desta vitamina.
Lá fora há diversos anticoncepcionais que não são comercializados aqui, inclusive algumas pílulas conhecidas no brasil, com a diferença de mais comprimidos na cartela, como é o caso do Yasmin 28, por exemplo.
O progestogênio utilizado nesta nova pílula com estrogênio natural já é utilizado na europa há anos, no tratamento da endometriose. Você encontra como Visanne ou Tinelle (em versão espanhola).
Não contem pra ninguém, mas eu adoro embalagens e será lançado um anticoncepcional cuja embalagem é uma caneta que você vai apertando na ponta e ela libera a pílula do dia. Tem todo um mecanismo para ser prática e não deixar você tomar o comprimido errado e não se esquecer de tomar no dia certo.

Estou pensando em escrever um post com uma lista de anticoncepcionais brasileiros e suas versões estrangeiras... o que acham?