Vida de obstetra não é fácil. Quando tudo está indo bem é uma maravilha, mas... nem sempre é assim. Hoje atendi um caso difícil e que deixou o plantão todo dividido, tanto que compartilhamos o problema com a família, que nos ajudou na nossa decisão, que ainda não sei se foi a certa ou não.
Uma gestante hipertensa, diabética, obesa e hipotireoidea, 26 semanas de gestação, 1 cesárea anterior. Quando nada poderia ser pior seu bebe não segue ritmo normal de crescimento e é acompanhado durante semanas, internada, através de exames que avaliavam sua saúde intra-útero. Os exames iam ficando cada vez piores. Hoje foi a gota d`´agua. Um feto de 26 semanas pesando em torno de 400g que, pelos exames, ele não sobreviverá por mais de 1 semana dentro da barriga. Por outro lado, se nascer, suas chances de viver são muito, mas muito pequenas. E sequelas? poderão existir por toda a invasão de medicamentos, transfusão, tubos, etc. O que fazer? deixar o bebe lá dentro, já que a mãe estava com sua saúde controlada, mas sabendo do risco de óbito intra útero OU tirar esse bebe pensando que ele pode ter alguma chance de sobreviver?
metade dos plantonistas e pediatras defendiam o nascimento do bebe e a outra metade, deixar o bebe dentro da barriga. Querem saber a opinião dos pais? A mãe concordava em fazer o bebe nascer, já o pai tinha fé que um milagre acontecesse e de repente o bebe passaria a ganhar peso. Discórdia até entre eles...
Essa é a parte mais angustiante da obstetrícia, decidir o momento do nascimento de um bebe quando as coisas não estão indo bem (porque quando chega ao final e a gestante entra em trabalho de parto é mole, quem decidiu nascer foi a natureza). Caso difícil, minhas amigas. Resolvi contar para vocês porque meu dia não foi nada fácil.
Essas semanas tem sido muito corridas! Deu pra perceber que o último post tem 2 semanas, não é?
mas tenho feito o possível para responder às dúvidas e comentários deixados... beijos, não demoro!